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   A Operação Loki desenvolvida pela Delegacia Especializada em Crimes Fazendários e Contra a istração Pública (Defaz) na segunda quinzena de setembro de 2017 no municÃpio de Nova Bandeirantes desencadeou uma série de fatores e tensão no municÃpio. No dia 02 de outubro um incêndio que consumiu todo o paço municipal e que ou a ser investigado, com um dos principais envolvidos morto e outro preso. O caso ganhou repercussão no estado, e nesta segunda-feira (05) a denúncia, de forma exclusiva à radio Bambina FM 96,9, de tortura realizada por um delegado da Capital, contra um dos envolvidos no crime, que fez denúncias contra várias autoridades do municÃpio de Nova Bandeirantes, e acusações junto ao Ministério Público. 401fo
Operação Loki
        Em Nova Bandeirantes estavam previstos ser cumpridos 10 ordens judiciais. A Operação buscava cumprir seis conduções coercitivas em desfavor de membros da Prefeitura de Nova Bandeirantes e prestadores de serviços para depoimentos nas investigações. Buscava apreender documentos, computadores e celulares que possam comprovar indÃcios de crimes contra a istração pública, peculato, associação criminosa e crime de responsabilidade de prefeito da atual gestão da Prefeitura de Nova Bandeirantes.
 A ação policial apura desvio de recursos públicos após emissão em duplicidade de documentos e pagamentos ilegais feitos com prioridade por serviços não prestados a Prefeitura de Nova Bandeirantes. As investigações também apuram fraudes na entrega de produtos a Prefeitura de Nova Bandeirantes, decorrentes de aquisição por processos licitatórios e por compras diretas durante a atual gestão. O nome da operação faz referência a Loki, considerado um deus da trapaça e da travessura na mitologia nórdica.
A negociação
Juliano Thibes Guedes de 27 anos, afirma ter sido contratado pelo prefeito para atear fogo na prefeitura, mas nega ter cometido o crime.
Conforme entrevista exclusiva à Bambina FM, Guedes aceitou o trabalho mediante a negociação de R$ 50 mil reais, que seriam pagos em duas etapas, uma pequena entrada e o restante quando o “serviço†fosse feito. A negociação aconteceu após um encontro casual entre Guedes e o prefeito, Valdir Rio Branco, o secretário de Obras, José Gabriel Bueno Schmitt e o filho do prefeito, advogado Thiago Pereira.
“Um dia eu fui ver a torre que a OI montou, e encontrei a caminhonete do prefeito, que parou na parada de ônibus, parei pra conversar com eles. O prefeito estava muito nervoso e falou pra mim que eu fosse no escritório do doutor Thiago. Cheguei no escritório o doutor Thiago me disse – Juliano, tenho um negócio até difÃcil de pedir pra você, é um serviço, você procura o Cica, que ele sabe o que é pra você fazer. – procurei o Cicaâ€.
Conforme continuidade dos relatos de Guedes, o secretário de Obras informou que haveria um “negócio grande†na cidade, se referindo a Operação Loki, e que documentos precisavam ser retirados da prefeitura. Alguns dias depois o pedido de atear fogo, que foi feito mediante a proposta de pagamento e ainda assessoria jurÃdica por parte do advogado Thiago Pereira. “Doutor Thiago falou que seria meu advogado, se eu precisasse de um advogado mais forte, teria o advogado do pai dele. Então tudo bem, nem pensei, peguei o envelope. Depois procurei o Juliano Rocha, que disse – não, eu faço! – aà ele pegou mais outro parceiro, fizeram o serviço em três, eu não fui fazer, terceirizei para elesâ€, relatou Guedes.
O recebimento
Após o acerto de que receberia os R$ 50 mil, no final de semana o secretário de Obras entregou à Guedes um envelope contendo R$ 5 mil, o restante do pagamento seria feito após o serviço concluÃdo. No domingo, 02 de outubro de 2017 a prefeitura foi invadida pelos três homens que atearam fogo, na segunda Guedes estava em Alta Floresta e foi informando que estava pronto, “pensei, está pronto só falta receber, voltei para Bandeirantes e procurei o Doutor Thiago, doutor Thiago mandou procurar o Cica. Procurei o Cica, ele mandou procurar o doutor Thiago, ficou jogando de lá pra cá, e falei pro Juliano Rocha e pros parceiros dele que cobrassem, eles cobraram, mas também não receberamâ€.
Após as cobranças feitas, uma nova negociação, valores de R$ 15 mil foram oferecidos para que uma lista com o nome de quatro mulheres fosse divulgada como sendo autoras do crime de incêndio. “Ficou do Rocha ir se apresentar na delegacia junto com o doutor Thiago, que é o advogado que iria nos defender de tudo, ele foi na delegacia de Bandeirantes e mandaram se apresentar pro delegado em Alta Floresta. Dois seguranças do prefeito acompanharam o Rocha para dar o depoimento em Alta Floresta e lá me pagaram mais R$ 4,5 milâ€, relatou Guedes.
ados alguns dias Guedes foi procurado por Rocha, cobrando, pois havia recebido apenas R$ 450,00 pelo serviço prestado. “Eu fui cobrar o Cica e ele me disse – não, não vou tratar bandido – e a doutora [advogada do prefeito] falou que não era pra pagar porque senão não dá indÃcios na investigação pra culpar as mulheres, e era isso que eles queriamâ€. Após as recusas, Guedes procurou a ajuda de um vereador, que o orientou a procurar a delegacia fazendária para relatar o ocorrido, visto que a Operação Loki havia acontecido. Guedes contou a sua versão de ter sido pago para entregar a lista de mulheres acusadas do serviço, mas omitiu o contratante, isso no dia 28 de fevereiro de 2018.
A tortura
“Com tanto delegado que tem aqui no municÃpio de Alta Floresta, teve que vir um de Cuiabá, e o que veio de Cuiabá em vez de fazer o trabalho dele, investigar, não, veio pra me bater?! Tá errado, eu não estou entendendo issoâ€, apontou Guedes relatando as agressões sofridas.
“Apareceu o novo delegado lá e queria saber a verdade, eu contei toda a verdade pra ele no dia 28, mas antes de eu contar o relato. Eu vi que era só eu sozinho e vários policiais, eles começaram a me bater e eu falei – não, não, eu vou contar a verdade – contei tudo como aconteceuâ€, relata Guedes, frisando que sofreu agressões com murros no estômago, murros nas costas e chutes, “Eles falaram pra mim ligar pro meu advogado, meu advogado foi lá e eles param de me bater, aà eu dei o depoimento e fui pra casaâ€.
No dia seguinte, 01 de março, Guedes relata que procurou o hospital por estar sentindo muitas dores devido as agressões sofridas. “Como Bandeirantes é pequena, ia ando a viatura da Civil, o policial conhecido da cidade viu a minha moto, pararam, eu saà lá fora e eles falaram – me acompanha na delegacia?! – isso era 09h da manhã, eu fui e aà eles falaram que iam buscar o Rocha em Apiacás, e foram, mas me agrediram muitoâ€.
A tortura conforme Guedes durou sete horas consecutivas, promovidas por policiais e um delegado vindo da Capital de Estado. “Muro na barriga, joelhada na barriga, murro nas costas, enforcamento, toalha molhada na cabeça, teve uma hora que estava perdendo o fôlego com esse toalha, eu falava – não faz isso não, eu falei a verdadeÂâ€, relatou Guedes frisando que “eles queriam que eu mentisse, queriam ouvir um depoimento falso que o Rocha deuâ€.
Após todo o processo de tortura, Guedes afirma que para sair da delegacia assinou o depoimento, “o delegado disse que pra sair era só , eu estava com tanta dor que nem liâ€. Guedes fez o exame de corpo delito, contabilizando nove lesões.
Medo
“Eu estou aqui porque estou com medo de morrer, esse negócio se tornou tão complicado, porque a verdade não vale mais nada. O delegado quis tanto uma mentira, que eu não sei mais o que vai acontecer, não espero mais nada, eu falei a verdadeâ€, desabafou Guedes.
Guedes ainda relata que a primeira tentativa contra ele foi a de privar a sua liberdade, “a turma do prefeito fez de tudo pra manter eu presoâ€, fator que não ocorreu, agora teme voltar para casa em Nova Bandeirantes. “Eu espero que a Justiça termine logo isso aÃ, porque eu já falei tudo, contei várias vezes a verdade, só faltei com ela uma vez lá na Defaz, porque eu não podia contar tudo. São duas partes, e em todas as duas a turma da prefeitura estáâ€.
“Eu me arrependo e muito, quando eu vi que não recebi, e que os rapazes não receberam nada, eu já vi que isso ia ser tormentoâ€, relatou Guedes frisando que gravou vários vÃdeos com depoimentos falsos comprometendo outras pessoas, “Isso fazia parte do acordo de R$ 15 mil, não vou mentir, mas estou arrependido, eles nunca falavam que era pra prejudicar fulano ou beltrano, falavam que era para a nossa segurançaâ€.
Denúncia
No dia 02 de março do ano corrente, Juliano Thibes Guedes procurou o Ministério Público, na 2ª Promotoria de Justiça Criminal de Alta Floresta, para denunciar a tortura.
Entrevista
Guedes durante a entrevista cedida com exclusividade a Radio Bambina, afirmou que a ordem partiu do secretário de Obras, José Gabriel Bueno Schmitt o ‘Cica’, do empresário conhecido como Vagner, proprietário da Loja Imperial, com promessas pagamento de R$ 50 mil e de e jurÃdico por parte de Thiago Pereira, advogado e filho do prefeito.
Uma segunda negociação, no valor de R$ 15 mil, seria para incriminar três mulheres do municÃpio. Ainda conforme Guedes, o montante de R$ 9.500,00 foi recebido por ele, Juliano Rocha, contratado por ele para realizar o “serviço†recebeu apenas R$ 450,00. E que agora se sente ameaçado e com medo.
Ainda após quatro dias, Guedes carregava algumas marcas da tortura, que fez questão que fossem registradas.