
Por Samira Bueno e Juliana Martins, Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2248e

(Foto: Alexandre Mauro/G1 371x46
     Nesta quinta-feira, 8 de março, paÃses do mundo todo celebram o Dia Internacional da Mulher, data que simboliza a busca pela igualdade entre homens e mulheres. A data é percebida por muitos como um momento festivo, no qual se distribuem flores e mensagens que ressaltam a importância da mulher na sociedade. Mas neste 8 de março, nós, mulheres brasileiras, não temos muito a celebrar. Os dados divulgados pelo Monitor da Violência, parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam que o Brasil permanece como uma das nações mais violentas do mundo para as mulheres.
          As estatÃsticas levantadas pelo G1 mostram que 4.473 mulheres foram vÃtimas de homicÃdio em 2017, um crescimento de 6,5% em relação a 2016, quando 4.201 mulheres foram assassinadas. Isso significa que uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil, taxa de 4,3 mortes para cada grupo de 100 mil pessoas do sexo feminino. Para que o leitor tenha ideia do que isso representa, se considerarmos o último relatório da Organização Mundial da Saúde, o Brasil ocuparia a 7ª posição entre as nações mais violentas para as mulheres de um total de 83 paÃses.
         O levantamento também inclui dados sobre feminicÃdios e revela que foram registrados 946 casos no paÃs ano ado, aumento de 16,5% em relação a 2016. Neste caso, o aumento é uma notÃcia positiva, pois indica que os estados estão se empenhando em aprimorar os registros deste crime. Mas é evidente que ainda há subnotificação.
          O feminicÃdio é o assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher, motivado geralmente por ódio ou desprezo. A Lei do FeminicÃdio (13.104 de 2015) foi sancionada há apenas três anos no Brasil, o que serve de explicação para o reduzido registro de casos nesta categoria. Como as estatÃsticas de mortes são produzidas a partir dos boletins de ocorrência lavrados pela PolÃcia Civil, muitas vezes o registro inicial é de homicÃdio e a classificação como feminicÃdio só será possÃvel após encerradas as investigações, exigindo dos setores responsáveis pela produção de estatÃsticas a retificação destes casos.
         Além disso, mudanças legislativas como a que a lei 13.104 introduziu exigem a formação e sensibilização de policiais e operadores do sistema de justiça criminal para que sejam capazes de diferenciar um homicÃdio comum de um feminicÃdio. Para tanto, a ONU Mulheres desenvolveu um documento para auxiliar o processo de formação destes profissionais, intitulado “Diretrizes Nacionais para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres (feminicÃdios)â€. Nele, estão contidos aspectos essenciais para inclusão da perspectiva de gênero na investigação criminal e orientações para aprimorar o trabalho dos diferentes atores envolvidos como policiais, peritos e promotores.

(Foto: Alexandre Mauro/G1)
Maridos ou companheiros 4y6e35
     Como o Brasil ainda não conta com um sistema nacional de estatÃsticas criminais que monitore periodicamente o fenômeno, pesquisadores têm se debruçado em informações produzidas pelo sistema de saúde para ampliar a compreensão sobre estes casos. E se considerarmos os últimos dados de mortes por agressão do sistema de saúde verificamos que 50% das vÃtimas de homicÃdio do sexo feminino no Brasil são mortas por parentes, dos quais 33% são os maridos ou companheiros. Sob este critério, é de se esperar que ao menos 2.200 mulheres tenham sido vÃtimas de feminicÃdios Ãntimos no ano ado.
       O estado que apresentou a maior taxa de feminicÃdios foi o Mato Grosso, com 4,6 mortes para cada 100 mil mulheres, seguido do Acre, com taxa de 3,2, e do EspÃrito Santo, com taxa de 2,0. Mas como ressaltado, os registros de feminicÃdio ainda são precários e vale também observamos a taxa de mortalidade de todos os homicÃdios de mulheres nos estados. Sob esta análise, o cenário é ainda mais grave porque 14 dos 25 estados que enviaram dados apresentaram taxa superior à média nacional. O pior cenário registrado foi no Rio Grande do Norte, com 8,4 mortes para cada 100 mil mulheres, seguido do Acre, com taxa de 8,3, e na terceira posição EspÃrito Santo e Pará, com 6,7 mortes para cada 100 mil mulheres cada um.
       Por isso, o dia 8 de março que se aproxima e todos os outros dias do ano deviam ser dias de luta e enfrentamento à s pequenas violências cotidianas tão incorporadas em nossa sociedade: desde o menosprezo a capacidades das mulheres até as diferenças salariais, do assédio sexual no espaço público até o assédio moral no ambiente de trabalho, das pequenas violências simbólicas à violência fÃsica.
Deixemos para celebrar o dia em que nenhuma mulher for assassinada apenas por ser mulher.
Samira Bueno é diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Juliana Martins é pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública