
Uma travessia épica pelo coração do Pantanal, onde a tradição e o futuro caminham lado a lado. Quem conta esta história é Pantaleão Flores. Ouça q6s5j

No rastro da poeira levantada pelos cascos, entre o bramido do gado, o ranger dos arreios e o som do memorável e tradicional do berrante, um feito inédito acontece no Pantanal.
Pela primeira vez, uma comitiva de 1,3 mil cabeças de gado da raça Brangus cruza as vastidões dessa terra alagada, desafiando a supremacia do Nelore e escrevendo um novo capítulo na pecuária da região.

Quem comanda essa jornada é um homem de nome forte e história ainda mais robusta: Pantaleão Flores, mais conhecido como “Panta”, um dos últimos grandes peões boiadeiros do Brasil. (Ouça os depoimentos deste incansável peão boiadeiro nos links abaixo.
A vida na estrada e a herança de um peão 1q4q28
[1. Pantaleão conta como se tornou um peão boiadeiro líder de uma comitiva de gado – dê um play no áudio abaixo]
A vida de Pantaleão não começou na poeira da estrada por acaso. Filho de boiadeiro, neto de homem do campo, ele cresceu no dorso de um burro, seguindo as pegadas do pai.
Enquanto outros meninos aprendiam números no caderno, ele aprendia a contar boiada. Aos 15 anos, largou os estudos e se entregou de corpo e alma ao ofício de peão boiadeiro.

“Já são mais de 50 anos tocando boi, e minha estrada é longa”, conta. Hoje, com 67 anos, comanda três comitivas e mantém viva uma tradição que resiste ao tempo.
A dimensão da travessia e a grandiosidade do feito 516u4w
[2. Quantos animais você já tocou pelas estradas do Pantanal? – dê um play no áudio abaixo]
Debaixo do sol escaldante e com o som encantador dos berrantes cortando o silêncio do Pantanal, Pantaleão já viu ar diante dos olhos mais de 200.000 cabeças de gado.
“Já toquei boiada de até 3.000 bois de uma vez só”, relembra.
Dessa vez, a missão é inédita: levar um rebanho inteiro de Brangus por 360 quilômetros, numa jornada de 45 dias. A raça, pouco comum na região, está provando seu valor e resistência no bioma pantaneiro.
O trajeto começou no dia 10 de janeiro deste ano, na Fazenda Bandeirantes, em Aquidauana (MS), e se encerra nesta próxima segunda-feira, 24 de fevereiro, com destino à Fazenda Aparecida, em Corumbá (MS).
Os homens que fazem a boiada caminhar 3q2f4n
[3. Quais são os integrantes de uma comitiva?
Mas boiada não anda sozinha. Ao redor do gado, há uma legião de homens rudes, forjados pela poeira, barro, rio e sol.
A comitiva de Pantaleão conta com o capataz Alexander, os meieiros Zé Horácio e Girão, o fiador Pelego, o ponteiro Cinimbú, o fiador do lado esquerdo Antônio Mentira e o cozinheiro Papagaio.
São nomes que ecoam nos sertões, figuras que, de sol a sol, fazem do gado sua vida.
“Já fui tudo isso na lida: capataz, cozinheiro, ponteiro. Onde falta gente, eu cubro”, diz o líder da comitiva.